Crise mundial de alimentos domina discursos em encontro de presidentes do Mercosul
Enviada Especial
Agência Brasil
San Miguel de Tucumán (Argentina) - Embora não estivesse na pauta, a crise mundial de alimentos e a disparada no preço do petróleo - que bateu US$ 140 por barril nas últimas semanas - acabaram dominando os discursos e as propostas da 35ª Cúpula de Chefes de Estado e de Governo do Mercosul, realizada hoje (1º) na cidade argentina de San Miguel de Tucumán.
Procurando se eximir dos pequenos avanços em temas do bloco durante a presidência rotativa argentina, a presidente Cristina Kirchner argumentou, logo na abertura da plenária, que nos últimos seis meses os alimentos e a energia invadiram a agenda pública dos países no mundo todo.
"Essa disparada dos preços em matéria de alimentos põe em risco não só a economia de um país, não só as reservas de um banco central, mas coisas mais tangíveis, e que nos faz muito mais responsáveis, que é a mesma dos homens e mulheres de nossos povos", disse Cristina.
Tanto Cristina quanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva culparam a especulação financeira pela inflação de alimentos. A presidente argentina assinalou, inclusive, a simultaneidade da disparada dos preços com a crise do mercado hipotecário americano. "Quando os bancos começam a fazer água é quando começam, precisamente, os movimentos especulativos no setor dos alimentos. A economia cassino que estava circunscrita ao âmbito financeiro e ao mercado de dinheiro começa a se transferir para o mundo dos alimentos", afirmou Cristina Kirchner.
O argumento foi reiterado por Lula, que lembrou as safras dos próximos três anos já estão negociadas no mercado futuro, o que se reflete nos preços atuais. No caso do petróleo, segundo Lula, o estoque do mercado futuro equivale a duas vezes o consumo da China.
Com apoio de Lula, o venezuelano Hugo Chávez sugeriu a criação de um grupo de alto nível, dentro do Mercosul, para tratar do tema. "A criação desse grupo vai permitir que nós possamos, no âmbito do Mercosul e também da Unasul, fazer uma discussão muito verdadeira sobre as necessidades alimentares de cada país", afirmou Lula.
Chávez também sugeriu a criação de um fundo para promover a produção emergencial de alimentos da região. E chegou a fazer uma proposta concreta aos colegas. Disse que a Venezuela está disposta a doar para um US$ 1 por cada barril de petróleo exportado por valor acima de 100 dólares. "Em vez de transformar alimentos em combustíveis, vamos transformar petróleo em alimento", defendeu.
A conclusão geral é de que a crise mundial de alimentos representa um desafio e uma oportunidade para os países sul-americanos. O caminho para isso é buscar a complementaridade das diferentes estruturas produtivas da região. "A integração é, para nós, uma oportunidade e uma necessidade como nunca tivemos na nossa história", resumiu Cristina Kirchner.
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