Tailândia News (Blog N. 572 do Painel do Coronel Paim) - Jornal O Porta-Voz

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quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Empreendedores contam como viraram empresários antes dos 25 (Postado por Lucas Pinheiro)





 Amanda de Liz Pfaffenzeller, de 23 anos, tornou-se proprietária de uma franquia de escolas de idiomas há cerca de três meses. Aos 21 anos, o engenheiro Millor Machado, hoje com 25, criou com outros dois sócios da faculdade (ambos de 23, à época) uma rede social para micro e pequenas empresas que atualmente reúne mais de 21 mil integrantes. Desde julho, Guilherme Luiz Costa, de 24 anos, investiu R$ 25 mil em uma franquia de manutenção de computadores e espera retorno em até um ano.

Os três empresários fazem parte de uma parcela em queda no país, de acordo com dados apurados pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae): a de jovens que optam por ter um negócio próprio logo no início da carreira.

O motivo principal da redução do número de jovens empreendedores é o aquecimento do mercado de trabalho, somado ao envelhecimento da população, dizem especialistas, o que torna empresários como Amanda, Millor e Guilherme integrantes de um grupo “disposto a correr riscos, a construir o próprio futuro”, em vez de optar por ser assalariado, na avaliação do consultor Renato Fonseca, do Sebrae em São Paulo.

"A proporção de jovens vem caindo no total de empreendedores, tanto em termos de tendência estrutural, quanto no último ano”, diz Carlos Alberto dos Santos, diretor-técnico do Sebrae. Segundo ele, a tendência pode ser explicada por motivos como o envelhecimento da população brasileira e o aquecimento do mercado de trabalho no país – afinal, quando há grande oferta de emprego, a tendência é as pessoas pensarem menos em abrir o próprio negócio.


 Não é o que aconteceu com Millor, por exemplo, que nunca trabalhou como funcionário e revela que não pensou duas vezes em criar a rede Empreendemia após receber um conselho de peso. “Meu pai falou, ‘aproveita que a hora é agora que você é novo’”, diz, acrescentando que o pai já havia quebrado duas empresas no passado.

Formado em engenharia em Campinas, no interior de São Paulo, o empreendedor criou com os dois colegas da universidade uma rede social na internet que reúne micro e pequenas empresas para que elas troquem informações entre si. O lucro vem de anúncios. “Grande empresas querem divulgar produtos para o mercado de PME”, explica.

O capital inicial foi ínfimo. Um dos sócios criou o site sozinho e o trio gastava cerca de R$ 120 mensais com serviços de contabilidade - o que fez que o investimento total no primeiro ano de operação, 2009, atingir R$ 2 mil.

Naquele ano, o faturamento também não foi lá aquelas coisas: R$ 440. Em 2010, contudo, chegou a R$ 60 mil, valor que mais do que dobrou em 2011, para R$ 130 mil. A expectativa para este ano é atingir R$ 250 mil. Para isso, a empresa lançou um novo produto no mercado, um kit de gestão online. Millor diz que não pensa em ter a experiência de assalariado. “Quero transformar essa empresa numa grande empresa”, afirma.

 Números de jovens empreendedores
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, apurados pelo Sebrae, apontam que caiu nos últimos dez anos a parcela tanto de jovens empregadores como trabalhadores por conta própria no país. Em 2001, cerca de 19% das pessoas que trabalhavam por conta própria tinham entre 18 e 29 anos, proporção que caiu para 15% em 2011 (2,9 milhões do total de 19,6 milhões no ano passado). No grupo dos empregadores, em 2001, 13% tinha entre 18 e 29 anos, proporção que caiu para 11% em 2011 (348 mil dos 3,2 milhões).

Além disso, a proporção de jovens empreendedores entre as pessoas da mesma idade voltou a cair no último ano. Caiu, também, com relação à média, após apresentar estabilidade em 2010, de acordo com dados da pesquisa Global Entrepreneuriship Monitor (GEM). Em 2011, a taxa de empreendedorismo entre aqueles de 18 a 24 anos era de 12,8%. Em 2010, estava em 17,4%. A média geral, por sua vez, foi de 14,9% em 2011 (superior a dos jovens) e de 17,5% em 2010 (equivalente a dos jovens).

O percentual diz respeito à Taxa de Empreendedorismo em Estágio Inicial (TEA), que representa a parcela de pessoas que realizou, nos últimos 12 meses, ação para ter um negócio próprio ou tem negócio próprio com até 3,5 anos de operação. A pesquisa anual, realizada no Brasil pelo Sebrae, foi feita em 2011 em 54 países.

 Responsabilidade
“Ter o próprio negócio não é fácil, muita gente ainda tem aquela visão romântica das coisas, o que nada tem a ver com o dia a dia. O trabalho na verdade só aumenta e a responsabilidade também”, sugere o jovem empresário Guilherme.

Em julho deste ano ele investiu R$ 25 mil em uma unidade da franquia Sr. Computador, especializada em reparos e manutenção de computadores e venda de produtos da área de tecnologia. “Esse investimento foi fruto de economias (...). Tenho certeza que, completando o ciclo de oito meses a um ano, já consigo ter o retorno”, calcula. Ele, ao contrário de Millor, afirma que já trabalhou como funcionário da área de TI, mas o objetivo sempre foi ter o negócio próprio.

Lacuna
Uma pesquisa realizada pela organização Endeavor mostra que há uma lacuna entre os universitários que gostariam de ser empreendedores e aqueles que fazem algo para concretizar o desejo.

O empreendedorismo é apontado como opção de carreira por 60% dos estudantes, mas apenas 38,1% afirmaram que dedicam algum tempo estudando como iniciar um novo projeto e somente 24,4% economizam dinheiro para o fim. O levantamento, divulgado em outubro, ouviu 6.215 universitários de todas as regiões do país.

“Notamos, em nosso dia a dia, uma crença, ainda que decrescente, de que empreendedores são nascidos, não criados. Ou seja, que não há como se preparar para empreender”, ressalta Amisha Miller, gerente de pesquisa e políticas públicas da Endeavor.

Na avaliação da especialista, por mais que muitas universidades ofereçam cursos de empreendedorismo, muitas vezes eles não chegam até as pessoas que querem empreender.

“Esses fatores colaboram para a pouca preparação dos universitários e, consequentemente, no nível de confiança em questões mais técnicas, ligadas diretamente à abertura de um negócio”, diz, citando que apenas 34,4% dos entrevistados disseram se sentir confiantes ao estimar o valor de capital inicial e de giro para abrir um negócio.

Em busca da independência
Para a gerente do Endeavor, a explicação para que jovens invistam no próprio negócio, mesmo sabendo das dificuldades, não é muito diferente da dos mais experientes. “Em primeiro lugar, o universitário busca independência”, diz, citando a resposta de 76,7% dos entrevistados. “Independência, em nossa pesquisa, quer dizer ‘liberdade pessoal, autonomia, ser seu próprio patrão, etc’”. De acordo com o estudo, o jovem também busca, contudo, recompensas financeiras (66%), segurança (56%) e recompensas pessoais (55%).

Amanda, por exemplo, revela que abrir o próprio negócio foi a opção para iniciar cedo uma carreira. Ela morou fora dos 17 aos 21 anos e, por isso, concluiu apenas o ensino médio. “Cursava moda, mas tranquei a faculdade para me dedicar exclusivamente ao meu próprio negócio”, afirma. “Acho tarde começar uma faculdade agora e somente depois de quatro anos, quando eu terminar o curso, fazer uma carreira”, diz.

Com ajuda financeira dos pais, ela abriu uma franquia da escola de idiomas InFlux English School em Indaiatuba, no interior de São Paulo. Antes, trabalhou por um ano como funcionária em uma unidade da rede em Curitiba, onde morava, para ter certeza da escolha. “O investimento foi de R$ 140 mil e já estamos quase no ponto de equilíbrio. Esperamos ter retorno até fevereiro”, revela a jovem, que administra o negócio e tem a mãe como responsável pela parte pedagógica.

A mudança para São Paulo foi justamente porque a marca está se fortalecendo mais no estado, diz. "Eu tenho bastante conhecimento do funcionamento da escola e a minha mãe, experiência pedagógica. Então, algumas decisões peço ajuda para ela, mas sou eu que tomo as decisões. O que podemos investir ou não", revela.

Tecnologia
O investimento em áreas relacionadas com tecnologia, como o de Millor e Guilherme, aliás, é uma das características dos jovens porque, de acordo com Santos, do Sebrae, eles têm mais facilidade para lidar com novidades do mundo tecnológico. “Eles são mais abertos a captar e distribuir dados, dominam tecnologias”, avalia.

 Fonseca, do Sebrae-SP acrescenta que franquias (caso de Amanda e Guilherme) são comuns pelo baixo investimento inicial, principalmente as chamadas microfranquias (de até R$ 50 mil).

“As tecnologias atuais favorecem as montagens de negócios. Isso é um fator de apoio (...), até pelo baixo investimento de negócios na internet”, sugere Fonseca. O especialista lembra, contudo, que ter o próprio negócio envolve muita responsabilidade e um pensamento amadurecido. “Ele precisa suprir a falta de experiência, ouvindo ao mais velhos tanto no sucesso quanto no fracasso. Ele precisa aprender sobre gestão, não é só ter a ideia e transformá-la num programa de computador ou em um site legal, é preciso ter compreensão de como lançar no mercado e torna-lo vendável.”

Comércio pelas redes sociais
E é justamente pela praticidade da internet que mais uma jovem brasileira começa a entrar no mundo dos negócios, e bem cedo. Desde agosto, a paulista Pâmela Tainá Cassiano, de apenas 16 anos, vende produtos de beleza em uma lojinha virtual criada por ela mesma em um perfil do Facebook.

A jovem diz que encontrou no comércio pela rede social uma forma prática de garantir um dinheirinho no final do mês sem comprometer o tempo dos estudos.

“Utilizo qualquer tempo vago para cuidar da lojinha, afinal, é dela que tiro meu ‘sustento’”, diz. “No começo, tive dificuldade em conseguir mostrar para meus pais que eu era capaz de estudar e ter meu próprio negócio (...). Faço tudo sozinha, tive apenas a ajuda de meu pai financeiramente para a primeira compra”, afirma.

Pâmela faz curso técnico de administração. O objetivo era “saber se era isso mesmo que ela queria para seu futuro” – e descobriu que é. “Sempre continuarei com meu próprio negócio, pois tenho intenção de crescer cada vez mais e gosto muito de ser empreendedora”, garante - a adolescente já prepara um site para a venda dos produtos e, no futuro, pensa em abrir uma loja física.

Apesar de toda a vontade de empreender, contudo, Fonseca alerta que é preciso ter em mente que o negócio pode, inclusive, não vingar - a taxa de mortalidade das empresas nos primeiros dois anos gira em torno de 27% no país, segundo dados do Sebrae. “É preciso ter um pensamento muito amadurecido. (...). Os jovens estão entendendo que pode não dar certo e ele pode começar de novo, o fracasso de uma empresa não é uma coisa mortificadora, não é o fim de mundo, embora seja muito triste”, avalia.

 A conselheira da Confederação Nacional dos Jovens Empresários (Conaje) em Goiás, Cybelle Bretas, de 29 anos, por exemplo, tem uma empresa em sociedade com as duas irmãs. Com a Cya Produção e Eventos, criada em 2005, quando ela tinha 22 anos, já passou por maus momentos. Em um dos eventos organizados por elas em 2008, o prejuízo foi de meio milhão de reais. A perda foi só no evento e a empresa "vai bem, obrigada", mas Cybelle conta que aprendeu bastante com o erro. “Nos tornamos muito mais profissionais depois do problema que tivemos”, diz. O faturamento no ano passado foi de R$ 1,2 milhão e a perspectiva é crescer 12,5% neste ano.

Para Amanda, que abriu uma franquia aos 23 anos, contudo, mesmo com os desafios, a experiência de ser empreendedor é gratificante. “Eu tenho certeza de uma coisa: quando você trabalha com paixão e brilho nos olhos, não importa a sua idade”, diz.

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