Corretor de imóveis da madrugada busca clientes em balada e Mercadão (Postado por Lucas Pinheiro)
O nicho inusitado foi descoberto por acaso. Corretor há cerca de oito meses, Beato, de 39 anos, não tinha conseguido vender nenhum apartamento, atender nenhum cliente, até que ficou depois da hora no estande e conseguiu atender o primeiro. Nascia ali o corretor da madrugada. “Vendo imóveis para quem trabalha à noite e para quem curte a noite. Estou há oito meses trabalhando como corretor. Em quatro, não vendi nada. Nos outros quatro, estou na madrugada e vendi 14”, diz Beato. Em junho, ele foi o segundo maior vendedor entre os 3 mil corretores com quem trabalha.
Beato começou perto da balada, abordando quem estava a caminho de uma boate e de um teatro que ficam no centro de São Paulo. Vendeu seis apartamentos. “Tem casal namorando, sonhando em ter apartamento e você chega oferecendo um, eles pensam”, conta Beato.
A filha da gerente comercial Mônica de Andrade e o namorado dela foram um dos casais que caíram nas graças de Beato na madrugada. A caminho da balada, a moça viu o estande, armado com bebidas para seduzir os clientes, e levou o material informativo à mãe. No domingo, durante o dia, Mônica e o marido foram conhecer o empreendimento e, na segunda-feira, fecharam a compra de duas unidades. “Eu nunca ia imaginar que tinha apartamento sendo vendido de madrugada. Achei uma baita sacada”, diz Mônica, de 46 anos.
Nos seis primeiros meses do ano, as vendas de imóveis residenciais novos na capital paulista voltaram a subir, com leve alta de 2,6%, revertendo, em parte, a queda de 31% registrada no primeiro semestre de 2011, de acordo com informações do Sindicato da Habitação (Secovi-SP).
O pós-balada
Acabadas as unidades, Beato foi vender apartamentos em Campinas. Como não encontrou balada perto, surgiu a ideia de peregrinar pela Ceasa-Campinas (Centrais de Abastecimento de Campinas). “Eu fornecia frutas no Paraná, principalmente uva, por isso sabia como funcionava à noite”, conta. Vendeu mais oito e se tornou o segundo maior vendedor do ranking de 3 mil corretores da empresa em que trabalha.
O Mercado Municipal de São Paulo é o terceiro lugar em que ele explora a madrugada. “Esse pessoal que trabalha não tem dia livre. Trabalham durante a noite e não têm tempo, então eles preferem olhar durante a noite. Quem está na balada aproveita para ver o apartamento sem tanta gente”, diz Beato. “A balada é melhor, sempre tem filho de papai, né?”
Para vender, Beato carrega os folders do imóvel e não poupa o gogó – explica o empreendimento, a localização, insiste, volta. Empolgado, ele diz que chegou a trabalhar 24 horas seguidas, fazendo o horário normal e a noite. Hoje, entra por volta das 14h quando vai "fazer madrugada".
No Mercado, fala com oito, dez proprietários de boxes por noite. Um deles é Moacir Dib, 61 anos, que está negociando um apartamento no prédio Estação Brás, que custa cerca de R$ 360 mil. “Acho que ele teve, sim, uma boa ideia de vender na madrugada. Não muda comprar na madrugada ou de dia, acho que tudo é questão se serve, se cabe pra gente”, diz Dib, que trabalha há 36 anos na madrugada.
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