Levy livra Dilma do impeachment
Por Tarcísio Lage, de Hilversum
Posso estar enganado, mas se vocês lerem com mais atenção os grandes jornais e ouvirem com mais cuidado os noticiários de TV, hão de notar uma pequena mudança em relação à crítica cerrada que fazem ao governo Dilma. Sempre tendo como exceção a revista VEJA, que não se comporta como órgão informativo, mas como porta-voz de ultra direita saudosa da ditadura. Em resumo: perde força a mensagem a favor do impeachment ou a derrubada da presidenta por qualquer método que seja.
É verdade que neste domingo A FOLHA DE SÃO PAULO deu destaque a uma frase em inglês dita por Joaquim Levy a alunos da Escola de Chicago, criticando a maneira confusa de Dilma em encaminhar as coisas. Chovendo no molhado. É só ouvir um pronunciamento da presidenta, sobretudo quando fala de improviso, para saber que ela é do tipo para que dizer fácil se podemos dizer difícil. Quem quiser, pode substituir o verbo dizer por fazer.
No entanto, mesmo a FOLHA vem mudando sua postura inicial a favor da derrubada de Dilma – através de impeachement ou outras vias – por uma posição de apoio ao remédio neoliberal proposto por Joaquim Levy. O ESTADAO foi mais além ao publicar um editorial, afirmando sem meias palavras ser as pessoas contrárias ao arrocho do ministro da Fazenda mal informadas ou mal intencionadas.
A demonização da presidenta e do PT no panelaço do dia 8 e nas manifestações do dia 15 está perdendo força, O escândalo das contas secretas no banco suíço HSBN atingiu em cheio o PSDB e mesmo a Operação Lava a Jato envolve cada vez mais todo o conjunto dos principais partidos do País. Lembro que numa edição de Conversa Afiada do jornalista Paulo Henrique Amorim ele disse que o escândalo do HSBN ia detonar a Operação Lava a Jato. Detonar eu não sei. Mas é evidente o crescimento da tese entre os políticos e a imprensa de ser no momento mais importante uma solução política do que policial.
É uma questão de classe em que o PT saí mais enfraquecido e encantoado. Está claro que, para sobreviver, o governo Dilma entregou o seu mais importante ministério à direita neoliberal, ao capital financeiro que, como já previa Lenin, seria a força motriz do capitalismo na sua fase imperialista. E, de quebra, deu aos ruralistas, contrários à reforma agrária, o ministério da Agricultura, dirigido pela Moto Serra de Ouro Kátia Abreu.
É inegável que em 12 anos na presidência, o governo petista conseguiu uma proeza jamais alcançada por qualquer outro governo: a real redistribuição da venda, mesmo que o PT tenha rasgado seu programa inicial em 2002 para conseguir a primeira eleição de Lula. Acentue-se também que o capital financeiro internacional tem interesse em quebrar as distorções históricas que colocaram e ainda colocam o Brasil entre os países com o pior sistema de distribuição da renda. O retrocesso agora imposto é conjuntural. Mas o estômago dos pobres e a classe média atingida pela redução de ganhos não entendem que diabo é isso de conjuntura. Só importa o aqui e agora abrindo a brecha para a entrada da extrema direita golpista.
Na internet onde se pode tudo (e isso é muito bom), na VEJA que se afunda financeiramente e nas palavras de muitos jornalistas e políticos claramente saudosos dos tempos da ditadura, toda essa gente aposta quase tudo nas manifestações convocadas para o dia 12 de abril. Mas podemos prever (e desejar) que não tenham êxito, mesmo que haja um bom número de manifestantes. Simples, cristalino. A bandeira deles não foi aprovada pelos donos do capital.
Meto-me agora num tema controvertido, mas coerente com o que acabei de escrever. Não creio que o governo estadunidense, a administração Obama, tenha o menor interesse em desestabilizar o governo brasileiro, muito menos em derrubar a presidenta. Os presidentes dos EUA sempre foram, antes de tudo, capatazes do império, que também responde pelo nome de capital financeiro internacional. E esse, vale enfatizar, está muito contente com o Chicago Boy sentado à direita de Dilma.
O argumento de que a CIA vê com preocupação o apoio do governo brasileiro à Venezuela e ao chamado bolivarismo criado por Hugo Chavez é uma visão tacanha. Ainda que contrário ao isolamento da Venezuela e manter boas relações políticas e econômicas com o país, os governos petistas sempre foram vistos como alternativas ao bolivarismo, não seguidores. Quem duvidar disso, recomendo ouvir a entrevista concedida por Lula à BBC, neste link https://www.google.nl/webhp?sourceid=chrome-instant&ion=1&espv=2&ie=UTF-8#q=entrevista%20de%20lula%20na%20bbc
Para resumir: a direita faturou, a extrema direita reduziu-se ao papel de cachorro que late e está no momento sem dentes e o PT corre o risco de encerrar com Dilma seu ciclo no governo.
É uma questão de classe.